segunda-feira, setembro 25, 2006

Novo apelo lancinante

Bloguer autodidacta encalhado, à beira de um ataque de nervos depois de um domingo malbaratado a tentar melhorar o seu blogue (especialmente o cabeçalho), convoca a piedade de um verdadeiro entendido que faça a esmola de o esclarecer sobre esse e outros mistérios mais insondáveis que o da santíssima trindade!

sábado, setembro 23, 2006

Evocar o mestre

Agora que um ano (lectivo) nasce de outro (civil) que acaba, é tempo, outra vez, de falar de Fernando Távora.

Da serena bonomia com que vivia, trabalhava, ensinava.

Da inteligência, da cultura, da afabilidade.

Do humor, da arquitectura, da circunstância.

Do ensino, do desenho, da delicadeza.

Da saudade

A águia deprimida

Mais sintomático de má-formação [má-educação?] do que não saber perder só não saber ganhar. À falta de respeito pelo outro junta-se a incapacidade de lhe reconhecer mérito, de resistir à contrariedade e de compreender a realidade quando nos é desfavorável (que é quando mais carecemos de a entender).
Gosto de futebol. Como ouvi dizer a António Lobo Antunes, não concebo que alguém possa não ser do Benfica. Mas, confesso que me entristece a auto-comiseração que emana do site benfiquista hoje. Até para um leigo (como eu) nessa ciência exacta que é a táctica do futebol, o que aconteceu ontem está longe de ser o cúmulo da injustiça. Que diabos, o cúmulo da injustiça é o caso Casa Pia. Ontem, um David matreiro resistiu (com 11, com 10) ao Golias presunçoso e indisciplinado até ao limite e, inteligentemente, quando verificou o seu previsível e acomodado esgotamento, refrescou-se, carregou e ganhou. Parabéns ao Paços de Ferreira e em especial ao seu treinador. Ao Benfica resta lamber sabiamente as feridas e procurar soluções eficazes…

quinta-feira, setembro 21, 2006

Trocas e baldrocas

Há por aí alguém que me esclareça? (adoro estes apelos lançados no ciberespaço como se ele fosse a minha rua e eu chamasse da janela o filho p’ra janta!)
Afinal o governo propõe-se trocar as seringas ou introduzi-las nas prisões?
É que trocar pressupõe a existência prévia das ditas na posse dos reclusos e, nesta perspectiva, é absurdo argumentar que se teme a sua utilização como arma ou como agente de contágio…

Há petróleo no Beato?

Acabo de ouvir o Pacheco Pereira (JPP) na "quadratura do círculo" sobre esta moda fundamentalista da indignação anti-ocidental violenta e insultuosa a pretexto de qualquer minudência. Não resisto à tentação de lhe exprimir o meu apoio tão condicional quanto possível (aliás em absoluta concordância com a sua intervenção).

Nesta questão vai sendo tempo de dizer que o rei vai nu. Não sou papista, nem religioso, nem anticlerical. Sou agnóstico por absoluta falta de fé. Li a lição do Papa e, não sendo tudo isto mas sendo professor encantou-me a sua luminosa arquitectura e a irresistível sedução do raciocínio.

Com um percurso de amadurecimento político semelhante ao de JPP (embora substancialmente menos contrastante, incomensuravelmente menos público e, por isso, também muito menos destemido), reconheço que concordo amiúde com as suas posturas éticas. Sou, portanto, um seu inconfesso admirador, que se queda, regra geral, pelos limites da esquerda e diverge com frequência e contrariedade das suas posições políticas. Arrelia-me a evidência de não encontrar no meu quadrante partidário ninguém com quem me identifique tanto. Todavia, delicia-me o privilégio democrático que esta contradição consubstancia e que se vem revelando tão insanável como pouco substancial…Para quem viveu o 25/4 aos 24 anos não é prazer despiciendo!


A verdade é que também sei (sabemos?) com quantos paus se fazem estas espontâneas manifestações de repúdio. Que absurdo é este de haver quem pretenda (como Jacques Chirac) que “precisamos evitar qualquer coisa que piore as tensões entre povos ou entre religiões”? Como é possível aceitar lições de tolerância vindas dos intolerantes mais empedernidos? Como podemos calar o nosso conhecimento do inferno que está por detrás daquilo? Não será óbvio o risco de acabarmos (os ocidentais) a prescindir voluntariamente do nosso modelo, esse cujas contradições tanto me deleitam? Qual a vantagem de simular acreditar na sinceridade de quem se indigna com a evocação da ilegitimidade da violência na disseminação da fé de Mohammed afirmando, em resposta: “que Deus nos permita degolá-los, e fazer do seu dinheiro e dos seus descendentes a recompensa dos mujahideen"?

Isto é para rir? Ou cheira a petróleo?

quarta-feira, setembro 20, 2006

Mau tempo no canal

Afinal o furacão deu em furaquinho e o Gordon ficou Magron...

terça-feira, setembro 19, 2006

Esta Katalin Kovacs, também!


























Merece todos os beijinhos do primeiro ministro!
Afinal é medalha de ouro olímpica dos 500 m em k2.

Ferenc Gyurcsany para primeiro ministro, já!















Este homem é um espectáculo!
Um político único.
Confessa-se aldrabão, mentiroso, cretino e pantomineiro (como se diz no Alentejo).
E é um poço de ternura. Acarinha intensamente o desporto olímpico…
Apanhado com a boca na botija (no trombone?) destemidamente confirma. Este exemplar faz-nos falta (à colecção)




Que Deus nos permita degolá-los


segunda-feira, setembro 18, 2006

"Ponham lá aí um cartaz a dizer que eu sou muito estúpido", diz JPP no Abrupto, hoje. A propósito do Loose Change nonsense.
M'espanto e m'avergonho cada vez mais. Vejo cabeças respeitáveis vacilarem com uma serenidade arrepiante perante a mais evidente falta de senso. Aflige-me sobretudo o ponderado acolhimento dado às reacções fundamentalistas à intervenção papal (eu que não gosto nada de Bento 16!). Disse o Conselho Mujahideen Shura na Internet:
"Quebraremos a cruz e derramaremos o vinho... Deus vai ajudar os muçulmanos a conquistar Roma... Que Deus nos permita degolá-los, e fazer de seu dinheiro e de seus descendentes a recompensa dos mujahideen".
E Jacques Chirac: "precisamos evitar qualquer coisa que piore as tensões entre povos ou entre religiões". Porquê só nós? Afinal não é só o fanatismo político anti-americano que leva à deterioração do pensamento. O que prova, em definitivo que ela (a deterioração do pensamento, claro) é contagiosa. Tanto para as mentes simples como para as sofisticadas...

domingo, setembro 17, 2006

Voltar a Almodovar...

À ternura pela gente quotidiana,
al viento solano,
à narrativa consistente,
a la superstición,
aos diálogos credíveis (espanhóis, muito espanhóis),
a la locura,
àquelas mulheres decididas
incluso a la muerte
e, last but not least,
ao decote esplendoroso de Penélope,
al fuego,
perdão Raimunda,
al fuego...

quinta-feira, setembro 14, 2006

O Anjo do Apocalipse

Na linha exacta definida por duas fachadas absolutamente iguais iluminadas diferentemente, em penumbra doce uma, outra irradiando claridade suave, está um homem. Parece suspenso. Tranquilo. Uma perna está dobrada sobre a outra, também um pouco flectida. Parece repousar, finalmente. Em postura insólita: de cabeça para baixo. Num contexto estranho: sem apoio perceptível. As pregas e a conformação das roupas contribuem para reforçar esta impressão de inverosimilhança, apenas desmentida pelo alívio, a distensão, que a imagem comunica. Este homem, talvez negro de pele clara, aparentemente alto e jovem, envergando um casaco de verão e umas calças negras e justas, que assim descansa em tão sereno abandono, ocupa uma posição central, ligeiramente elevada, na fotografia. À sua volta, na página da revista, outras fotografias de tons idênticos relatam, com uma gravidade muda, a tragédia. Escrita com nódoas de fumo sujo sobre o céu azul de fim de verão. Manchada por cascatas de poeira parda. Na cidade de Nova Iorque. Em 11 de Setembro de 2001.
Este homem cai, afinal.
Atravessa o espaço, apaziguado, por fim. Enquanto o faz repara nas pessoas que procuram, no limiar dos pisos que vai atravessando, escapar ao calor sufocante do incêndio. Sorri, um sorriso fatalista, perante a evidência do medo de caírem, denunciada pelos seus esgares apavorados. Liberto que vai, agora, desse inferno, desce vertiginosamente. Como se subisse. Ao céu. No seu caso, à terra. Porque, percebeu-o neste instante, o céu de cada um é só a metáfora para o fim do sofrimento. Ou para o início da tranquilidade definitiva.

Tudo agora aparenta ser o oposto do que tem sido. Não por lhe aparecer invertido, dada a sua posição. Mas por, subitamente, se lhe afigurar que assim é que tudo é. O mundo que abandona sem sobressalto tem, afinal, ainda esta perspectiva. Liberto dos constrangimentos de um quotidiano que agora se afigura grotesco, este homem dirige-se, sereno, para o fim de uma vida que começou há momentos. No instante exacto em que decidiu saltar. E estes segundos escassos, o exíguo tempo que lhe resta, assumem, de súbito, a dimensão da eternidade. Por tudo, finalmente, se resumir ao essencial. Aliviado de toda a descrença, sente-se invadir por uma mansa sensação de fé. A monstruosidade do absurdo que lhe vai custar a vida quando encontrar o chão, é afinal apenas causa próxima, encadeada em inúmeras outras, mais remotas. Formula assim, ponderadamente, a convicção que vale por uma redenção e lhe justifica o sorriso plácido que traz nos lábios: de que a desmedida desta tragédia mobilize os seus semelhantes para a grande viragem, emprestando afinal algum sentido ao cruel sacrifício.
Não há humilhação. Sequer. Por não poder haver outro sujeito para este insulto senão a humanidade. E, este ser um substantivo excessivamente colectivo para servir de agente a acção tão abjecta. Não há possibilidade de retaliação. Nada poderá lavar esta infâmia. Nem outra ignomínia semelhante. Seremos todos culpados, sem dúvida. E vítimas, seremos, também. Todos. Mas teremos ainda de aceitar ser cúmplices? Da retórica, da desinteligência, do oportunismo, enfim, com que nos vendem a banha da cobra com que curarão agora, definitivamente, todas as feridas que antes abriram e nunca lograram aliviar? Ou iniciaremos a grande viragem? Com extenso debate sobre as verdadeiras estratégias que urge desenhar para um futuro menos irracional que aquele que este presente prepara. Por não poder ser outro o significado d' "a grande viragem", evocação tão dramaticamente atribuída àquele homem, aqui descrito e a quem chamaremos, doravante, o anjo do apocalipse. Porque de apocalipse se trata, não haja ilusões. E esta criatura consubstancia, no desiderato que lhe atribuímos, toda a esperança de todos os homens. Como a sua ascensão inversa simboliza a fé. E ao conjunto chamaremos anjo ou seja a anunciação. A que todos hão de ter direito, crentes e incréus.

Quando a dor ainda magoa.
Com o cheiro dos cadáveres a empestar o ar de Manhattan.
Antes que o veneno bélico nos tolha a inteligência.
Enquanto somos capazes de resistir à estupidez.

Para sermos dignos dos nossos mortos.

João Nasi Pereira