quinta-feira, setembro 14, 2006

O Anjo do Apocalipse

Na linha exacta definida por duas fachadas absolutamente iguais iluminadas diferentemente, em penumbra doce uma, outra irradiando claridade suave, está um homem. Parece suspenso. Tranquilo. Uma perna está dobrada sobre a outra, também um pouco flectida. Parece repousar, finalmente. Em postura insólita: de cabeça para baixo. Num contexto estranho: sem apoio perceptível. As pregas e a conformação das roupas contribuem para reforçar esta impressão de inverosimilhança, apenas desmentida pelo alívio, a distensão, que a imagem comunica. Este homem, talvez negro de pele clara, aparentemente alto e jovem, envergando um casaco de verão e umas calças negras e justas, que assim descansa em tão sereno abandono, ocupa uma posição central, ligeiramente elevada, na fotografia. À sua volta, na página da revista, outras fotografias de tons idênticos relatam, com uma gravidade muda, a tragédia. Escrita com nódoas de fumo sujo sobre o céu azul de fim de verão. Manchada por cascatas de poeira parda. Na cidade de Nova Iorque. Em 11 de Setembro de 2001.

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