quinta-feira, setembro 21, 2006

Há petróleo no Beato?

Acabo de ouvir o Pacheco Pereira (JPP) na "quadratura do círculo" sobre esta moda fundamentalista da indignação anti-ocidental violenta e insultuosa a pretexto de qualquer minudência. Não resisto à tentação de lhe exprimir o meu apoio tão condicional quanto possível (aliás em absoluta concordância com a sua intervenção).

Nesta questão vai sendo tempo de dizer que o rei vai nu. Não sou papista, nem religioso, nem anticlerical. Sou agnóstico por absoluta falta de fé. Li a lição do Papa e, não sendo tudo isto mas sendo professor encantou-me a sua luminosa arquitectura e a irresistível sedução do raciocínio.

Com um percurso de amadurecimento político semelhante ao de JPP (embora substancialmente menos contrastante, incomensuravelmente menos público e, por isso, também muito menos destemido), reconheço que concordo amiúde com as suas posturas éticas. Sou, portanto, um seu inconfesso admirador, que se queda, regra geral, pelos limites da esquerda e diverge com frequência e contrariedade das suas posições políticas. Arrelia-me a evidência de não encontrar no meu quadrante partidário ninguém com quem me identifique tanto. Todavia, delicia-me o privilégio democrático que esta contradição consubstancia e que se vem revelando tão insanável como pouco substancial…Para quem viveu o 25/4 aos 24 anos não é prazer despiciendo!


A verdade é que também sei (sabemos?) com quantos paus se fazem estas espontâneas manifestações de repúdio. Que absurdo é este de haver quem pretenda (como Jacques Chirac) que “precisamos evitar qualquer coisa que piore as tensões entre povos ou entre religiões”? Como é possível aceitar lições de tolerância vindas dos intolerantes mais empedernidos? Como podemos calar o nosso conhecimento do inferno que está por detrás daquilo? Não será óbvio o risco de acabarmos (os ocidentais) a prescindir voluntariamente do nosso modelo, esse cujas contradições tanto me deleitam? Qual a vantagem de simular acreditar na sinceridade de quem se indigna com a evocação da ilegitimidade da violência na disseminação da fé de Mohammed afirmando, em resposta: “que Deus nos permita degolá-los, e fazer do seu dinheiro e dos seus descendentes a recompensa dos mujahideen"?

Isto é para rir? Ou cheira a petróleo?

Sem comentários: