quinta-feira, setembro 14, 2006

Não há humilhação. Sequer. Por não poder haver outro sujeito para este insulto senão a humanidade. E, este ser um substantivo excessivamente colectivo para servir de agente a acção tão abjecta. Não há possibilidade de retaliação. Nada poderá lavar esta infâmia. Nem outra ignomínia semelhante. Seremos todos culpados, sem dúvida. E vítimas, seremos, também. Todos. Mas teremos ainda de aceitar ser cúmplices? Da retórica, da desinteligência, do oportunismo, enfim, com que nos vendem a banha da cobra com que curarão agora, definitivamente, todas as feridas que antes abriram e nunca lograram aliviar? Ou iniciaremos a grande viragem? Com extenso debate sobre as verdadeiras estratégias que urge desenhar para um futuro menos irracional que aquele que este presente prepara. Por não poder ser outro o significado d' "a grande viragem", evocação tão dramaticamente atribuída àquele homem, aqui descrito e a quem chamaremos, doravante, o anjo do apocalipse. Porque de apocalipse se trata, não haja ilusões. E esta criatura consubstancia, no desiderato que lhe atribuímos, toda a esperança de todos os homens. Como a sua ascensão inversa simboliza a fé. E ao conjunto chamaremos anjo ou seja a anunciação. A que todos hão de ter direito, crentes e incréus.

Quando a dor ainda magoa.
Com o cheiro dos cadáveres a empestar o ar de Manhattan.
Antes que o veneno bélico nos tolha a inteligência.
Enquanto somos capazes de resistir à estupidez.

Para sermos dignos dos nossos mortos.

João Nasi Pereira

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